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Lúcio e as estrelas explosivas

  • ailacultatende
  • 22 de jun.
  • 3 min de leitura

Por Vinícius Campelo Pontes Grangeiro Urbano

(Ocupante da Cadeira nº 12 da AILA)


As nuvens se entrecortavam com estrelas que caíam do céu, pelo menos era isto que aquela pobre criança acreditava. Estrondos ao longe mostravam a força dos impactos das estrelas com o chão. Lúcio pensava em pedir desejo de paz a estes gênios que cortavam o céu noturno, não aguentava mais a desgraça que a guerra trazia à sua vida e à de sua família. A morte tornara-se um fato diário daqueles que se encontravam nas terras atormentadas por aqueles que se dizem divinamente herdeiros delas.

Lúcio não compreendia esse Deus que mandava os seus filhos destinarem todo ódio ao seu povo, sem perdoar as crianças e idosos. Como se a força das balas já não bastasse, ainda aplicavam o regime da fome. Lúcio ficava confuso constantemente. Chamavam ele e sua família de terrorista, mas como ele e os seus o seriam? Nunca havia pegado em armas, mas sim em ferramentas para lavouras, então, como ele causaria este terror?  Terror não seria matar os humildes em nome de um Deus? Muitas eram suas dúvidas e pouco era o tempo para respostas, afinal, os guerreiros desse Deus tinham sede de sangue dos inocentes.

Mas as estrelas continuavam caindo, e os pedidos de paz não cessavam. Lúcio implorava, pedia a tudo que pudesse existir como forma de força sobre-humana. As estrelas pareciam estar caindo cada vez mais perto. Seria o milagre chegando? Estariam os seres superiores o escutando e chegando mais próximos a dádiva? Perguntava-se sem parar, enquanto se lembrava da cena do dia que sua avó fora morta por esses homens que se diziam divinos. Sua pobre avó, magra e sem conseguir andar direito, levou balas desferidas as suas pernas e, enquanto implorava pela própria vida, os soldados riam e a matavam a socos e chutes. O que ela fizera? O que fizeram? Por que eram condenados por termos nascido? Dizia a si mesmo, enquanto desejava as estrelas que caíam que para estes que os fizeram tanto mal, pudessem sentir em seus corpos as mesmas dores que ele sentia.

Mas, por um instante, ele afastava o desejo de mais morte, com medo de que a morte fosse o Deus desses soldados e que pedir a morte dos seus fies, seria atentar contra esse Deus.  Lúcio ouve ao fundo alguém gritar, mas não entendia direito. Vê um adulto se aproximando e o abraçando forte: era o seu pai. Ele chorava muito, e Lúcio não entendia. Qual era o problema? Eles já não estavam seguros? Seu pai o olha, vê que seu filho nada entendia, afinal, era exigir muito de uma criança de 9 anos tamanho entendimento. O pai lhe diz que o ama, e que logo tudo acabará. Lúcio sorri. As estrelas caem ao lado e uma enorme explosão acontece. Lúcio vê um clarão e seus ouvidos zunem. Seu pai está ao seu lado, dilacerado, morto. Lúcio chora um pouco, e sente seu corpo ficando frio. Lembra-se de tudo: da sua família, dos seus amigos. Lembra-se o quanto foi amado. E pergunta-se, à medida que seus olhos se fecham: “Será que agora estarei em paz?”

Dias depois, são publicados no Brasil notícias escritas por aqueles e aquelas que acreditam nos soldados divinos de Israel. Noticiam o sucesso das várias explosões que caíram durante toda a noite sobre os corpos dos terroristas palestinos. Enquanto isto, Lúcio é esquecido ao lado do corpo do seu pai, junto com toda uma comunidade de agricultores que sonhava com a possibilidade de poder viver.

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