Discurso de posse do Acadêmico Hélcio Santos na AILA
- ailacultatende
- 26 de abr. de 2023
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Senhoras e Senhores, Boa noite.
Ao iniciar este discurso, permitam-me que eu me apresente de forma breve, mas sem perder a essência de meu ser, daquilo que me instiga, inspira, e como os rios que correm para o mar, não me permitem negar.
Nasci em 28 de junho de 2001, tendo Iracema por berço, casa e terra mãe. Vim ao mundo por suas mãos, Dr. Pedro, e esse é um fato que muito me orgulha. Tenho por excelência, seu Hélio, há pouco teólogo, e a professora autora, teóloga também, Auxiliadora como pai e mãe (respectivamente). Sou o caçula do casal, tendo apenas o primogênito, Carlos Alberto, músico nato como irmão. Sou bisneto de Antônio Praieiro dos Santos, conhecido popularmente por nós como Antônio Mossoró, codinome que recebeu dos populares por ser o negro responsável pela travessia do sal e outras mercadorias do Rio Grande do Norte para esta região. Mal sabia eu que o sal de meu bisavô não vinha exatamente de Mossoró, mas, muito provavelmente de um povoado denominado ilha do Capim Grosso, atual município de Grossos. Meu avô Abílio, confreira Socorrinha, referia-se a seu irmão apenas como Mestre Euna, título que toda família respeita até hoje.
Aos 12 anos de idade, fiz o primeiro cenopoético pela Associação Cultural Filhos da Esperança que levava indignação e ousadia através de poesias como “Para onde foram os Poetas”, de Caio César Muniz, e músicas que naquela época já me faziam tremer e principalmente, já me inquietavam. Ainda na mesma idade, tive o primeiro cordel premiado e recebi das suas mãos, confrade José Uilson, o troféu de primeiro lugar na categoria.
Sou, com muito orgulho, do chão da escola pública, do quadro negro escrito a giz, do corre-corre na hora do intervalo. Fui orador de minha turma de ABC, estudei o ensino básico, fundamental I e II na Escola Joaquim de Holanda Campelo, e mais tarde, já no fim de minha adolescência, cursei o ensino médio na casa da tradição e qualidade deste município, a Escola Enéas Olímpio da Silva. Lá, integrei a Sociedade Literária, Artística e Cultural: Nicole Franklin, presidi o grêmio estudantil, participei da Esquete Teatral “Cada canto um povo, cada povo uma luta”, vencedora na 11ª CREDE no Festival Alunos que inspiram e integrei a banca de texto selecionados pela escola na oitava edição do concurso de desenho e redação da CGU que trazia “Um por todos e todos por um! Pela ética e cidadania” como tema.
Ajudei a construir a 1ª Conferência Nacional e Popular de Educação e também, junto ao Ministério Público do Trabalho, contribuí com a formulação da primeira e vitoriosa conferência nacional de erradicação ao trabalho infantil.
Lembro-me vagamente de em uma certa ocasião, passar em frente a esta casa e perceber que a AILA estava reunida. Para mim mesmo, prometi cursar graduação, especialização, mestrado e doutorado, para um dia retornar e pleitear o título de imortal desta academia. No entanto, o tempo, senhor de tudo, havia me preparado esta noite, meus amigos, mas, quem sabe por um ledo descuido, esquecera de me contar.
A canção de Maria Bethânia que recitei no inicio deste pronunciamento, me despertou desde a primeira vez que a ouvi e me sinto profundamente, representado em cada palavra deste brilhante enunciado. Olho de lince, nome da canção, traduz de maneira curta e certa muita coisa sobre mim, e porque não dizer, sobre muitos de nós. Olhos de lince é uma expressão que é usada para descrever alguém que tem uma visão acima da média, fora da caixa; a frente do tempo. O lince é um felino e como todos os felinos, tem muito boa visão, e por isso muitas pessoas usam a expressão.
Não é preciso me conhecer profundamente para saber que fiz da utopia meu leme, hasteei a vela da esperança e com muita ousadia, desbravo o mar da vida até que feliz possa gritar: outro mundo à vista!
Meus confrades, minhas confreiras, ao ingressar nesta academia, além de trazer orgulho e diversidade para estas cadeiras, trago também a força e a vitalidade das juventudes iracemenses, que são diversas, plurais e pouco percebidas ainda.
Certa vez, ainda muito novo, fui chamado pela professora e acadêmica Resse Cláudia Alves, de Menino dos Olhos de Deus. Este termo, tão lindo e tão duro, ao mesmo tempo, me fez refletir profundamente sobre a capacidade humana que todos nós precisamos portar. Hoje, com mais tranquilidade, menos radicalidade, trago no coração e com muito carinho este codinome tão sincero.
Em fevereiro do ano passado, recebi das baianas, Professoras Neila Bruno (Doutora em Literatura) e Marília Rodrigues, o convite para integrar a Coletânea de poemas, Novos Autores. Na dúvida, consultei algumas pessoas que me incentivaram sim, a contribuir com a publicação. Eu tinha alguns escritos prontos, mas não sabia que alguém gostaria de lê-los. A coletânea, me rendeu ainda a Antologia Poética “Mulher é pura poesia” permitindo que as linhas que um dia escrevi, saíssem das grades que são as folhas de meus cadernos e voassem para as mentes dos leitores por aí. Já em dezembro, fui selecionado pela Editora Vivara Nacional para integrar Antologia que celebra os 13 anos da mesma, recebendo o Prêmio Poetize 2023 – Seleção Poesia Brasileira.
Sou poeta porque Caio assim me fez quando escreveu sobre mim uma matéria no site da AILA. Me considero mesmo é um sonhador, feliz por chegar até aqui, e faminto por tudo aquilo que ainda irei viver.
A Iracema, dedico os meus melhores sonhos, meus melhores projetos, e ponho no jeito iracemense de ser a fé de que nossa cidade pode, deve e ainda vai ser do tamanho dos nossos sonhos. A academia, não esperem de mim covardia, silêncio, desejo latente ou pesar, mas, não hesitarei em defender, proteger e contribuir para que a cultura deste povo não se esqueça, não se enterre. A arte imita a vida, e ela, a arte só existe por que só a vida não basta. A luta por democracia, vida digna e enfrentamento ao fascismo deve ser pauta urgente nessa casa, e nós, os resistentes combatentes.
Minhas palavras, nascidas do coração, são de gratidão e homenagem a esta academia. Levo comigo a missão não somente em ser agora acadêmico, mas também de salvaguardar a memória e a contribuição de meu patrono, Francisco Pinheiro de Sousa, homenageado no Centro de Saúde, conhecido por nós como SESP. Somos vários, somos um. O um-múltiplo de que nos fala Platão, ao ensinar que uma forma é uma totalidade que abarca particularidades. Somos em totalidade e nas particularidades sempre contraditórios, cindidos, incompletos como diz Oswaldo Montenegro em Metade:
“Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca pois metade de mim é o que eu grito a outra metade é silêncio;”
Portanto, meus amigos e minhas amigas, concluo parafraseando o cearense do Brasil, da música popular brasileira e de cada um de nós, Antônio Carlos Belchior em Divina Comédia Humana.
“Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso Eu vos direi, no entanto Enquanto houver espaço, corpo, tempo
e algum modo de dizer não Eu canto”, ou melhor, EU RIMO.
Muito Obrigado Senhores! Viva a AILA.
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Hélcio Santos ocupa agora a cadeira de nº 10 da Academia Iracemense de Letras e Artes (AILA), após declínio de Francisco Hirondelles Oliveira Almeida (Hyron) e após a desistência por livre e espontânea vontade da Acadêmica Sandra Selma Pinheiro Leite. A Cadeira nº 10 tem como patrono Francisco Pinheiro de Sousa. A posse de Hélcio Santos aconteceu no último dia 24 de março de 2023.
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