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Cadeira nº 39 - Norma Holanda Oliveira Bezerra

  • ailacultatende
  • 22 de mar. de 2022
  • 7 min de leitura

Norma Holanda Oliveira Bezerra, natural de Pereiro/CE, Filha de José Desidério de Oliveira e Francisca de Holanda Oliveira; adota a terra da sua família materna, e é agraciada com o título de cidadã Iracemense. Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, e em História e Geografia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú. Além disso, é especialista em gestão escolar pela Universidade Federal do Ceará e Universidade Federal de Minas Gerais, assim como em metodologia do ensino fundamental e médio, pela Universidade Estadual Vale do Acaraú.

Professora em sua cidade natal, oficialmente desde 1983, assume aos 18 anos de idade, a direção da Escola Municipal Nilda Campos Terceiro. Em 1986, juntamente com os pais e irmãos, migra para o município vizinho, Iracema/CE, localidade em que conclui o 4º ano do magistério, no Colégio Moura Brasil. Após curto período de trabalho temporário para a Prefeitura Municipal, retoma às atividades docentes, lecionando na extinta escola particular, Escolinha Vovô Luiz, dedicando 6 anos à educação infantil. Ademais, amplia o ofício docente no Centro Educacional Moura Brasil, nas turmas de ensino fundamental e médio. São mais 5 anos entre alfabetização das crianças e a diversidade das disciplinas do ensino médio.

Aprovada em concurso público para professor da rede estadual de ensino do Ceará, e também em cargo técnico na rede municipal de Iracema, opta pela educação. Escolhida, então, pela docência, trilha o caminho de contribuir com o ensino público. Foi acolhida pela Escola Enéas Olímpio, enquanto professora, de 1998 até 2003. O ato de ensinar e aprender é sedutor e a estimulou transitar por vários cargos dentro das escolas pelas quais esteve, sendo na Escola Deputado Joaquim de Figueiredo Correia, a escola em que mais empenhou seus esforços na gestão escolar. Conclui então suas atividades docentes, e em 2019 é concedida sua aposentadoria por tempo de serviço.


PATRONO: José Desidério de Oliveira (professor Zequinha).


José Desidério de Oliveira (Professor Zequinha) é natural de Pereiro/Ceará, nascido aos 08 de fevereiro de 1931. Filho de Vicente Desidério de Oliveira, (migrante do Juazeiro Norte/Ceará) e Maria Soares de Oliveira (Pereiro/Ceará) foi casado com Francisca de Holanda Oliveira (Iracema/Ceará) e constituiu uma família de 07 filhos, todos nascidos no município de Pereiro, e nos dias atuais todos residentes em Iracema. São eles: Carlos, Norma, Naira, José, Nélia, Maria e Aiéu.

José Desidério de Oliveira começou a construir suas marcas na história aos 05 anos de idade quando de forma atípica para a realidade de uma família de agricultores, ajudava pessoas analfabetas escrevendo bilhetes com pedidos de ajuda para as autoridades locais. Atividade essa que lhe rendeu alguns trocados e o tornou popular na cidade. Embora sua casa trouxesse as restrições de uma vida humilde, era localizada no centro da cidade, em frente à Igreja Católica, favorecendo a sua inserção na fé cristã. Era constante sua presença na Igreja Matriz de Pereiro para admirar as imagens do sofrimento de Jesus na via crusis e se emocionar com as penitências que realizava pelas almas dos pecadores. Sua inocência era tamanha que chegou a sonhar que se tudo fizesse conforme as regras da Igreja, poderia ser um dia São José de Pereiro. Fato que o motivou a ser coroinha da Igreja.

Como sempre buscou dedicação em tudo, se destacou pelo conhecimento sobre o Evangelho e despertou interesse nas autoridades eclesiásticas locais que resolveram guiar o menino José Desidério ao seminário de Canindé, agora iria estudar e ser padre. Após 02 anos, retornou decepcionado a sua terra natal, pois não encontrou o que pensara encontrar. Dessa vez engendrou os conhecimentos das ciências sociais, da matemática e das línguas, aperfeiçoando a conhecimentos e vivências trazidas do Seminário, como os ataques que assistiu aos padres alemães, as destruições de objetos e do espaço físico do Seminário, quando policiais armados vasculhavam a procura de provas que os incriminassem afirmando que aqueles poderiam estar a serviço dos nazistas.

O menino José Desidério não era mais o mesmo, já não poderia mais ser apenas aquele agricultor de outrora. Isso acarretou o descontentamento do seu pai que não compreendia a mudança, e porque não dizer, o amadurecimento daquele jovem que questionava a realidade e sabia que tinha o mundo para conhecer.

Entre tantos conflitos, acabou por decidir sair em busca do de seus ideais, que já não cabiam nos limítrofes da sua pequena cidade. Portanto aos 18 anos seguiu sozinho, e a pé, com pouco dinheiro no bolso para Jaguaribe, em seguida para Fortaleza, enfrentando graves dificuldades financeiras, mas que nunca os desvirtuaram dos caminhos da licitude e honestidade.

Em 1949 entrou para a Marinha de Guerra do Brasil, e influenciou 03 irmãos que também se tornaram marinheiros. Na Marinha, teve oportunidade de conhecer melhor o Brasil, vários países da África, América, Ásia e Europa. Foi premiado pelo seu desempenho na Marinha de Guerra em 1953 com uma viagem em volta do mundo, condecorado em mãos pelo Presidente da República. Tentou se apoderar mais da vida, conhecer outras possibilidades e se afastou da Marinha, foi operário fabril no Rio de Janeiro por 05 anos e serviu ao Exército em Goiânia/GO.

Por motivos de saúde foi forçado a retornar definitivamente a sua terra natal. Eram 14 anos distante dos seus. De volta a Pereiro se envolveu diretamente com eventos socioculturais e com a política partidária local, optando sempre para o lado da oposição, enfim, dos menos favorecidos. Isso ocorria em plena ditadura militar. Nesse contexto é convidado para reuniões sociais, para secretariar debates e redigir atas, atuar em conselhos escolares e associações, escrever discursos e homenagens, contribuir como tradutor de inglês nas visitas de estrangeiros em Pereiro.

No ano de 1963 foi convidado a lecionar inglês, ciências e matemática no Colégio Ovídio Diógenes, em Pereiro. Docência esta, que o conduziu a direção da referida escola por vários anos. Comentam as pessoas desse tempo, ex-alunos e comunidade escolar que o Colégio Ovídio Diógenes vivenciou um modelo de ensino e aprendizagem voltado para o desenvolvimento da criticidade e disciplina. Sua passagem pela escola o fez receber o eterno título de Professor Zequinha Desidério. Qualificação esta que é a marca do seu reconhecimento social. Paralelo às atividades da docência, professor Zequinha Desidério também mantinha uma oficina eletrônica que trabalhava, fazia e testava suas invenções, ouvia as rádios e músicas estrangeiras, escrevia crônicas, desenhava cartuns, contava piadas, registrava fatos diários da cidade e do mundo, como também ensinava a sua prole o conhecimento científico e religioso. Sua oficina foi seu refúgio, escritório, espaço de receber amigos e também os falsos, bajuladores que eventualmente apareciam para filtrar conversas e desvirtuá-las atendendo interesses de autoridades locais, seguidores e defensores, beneficiários da ditadura militar.

Desse modo, teve a 1ª colheita da sua postura opositora aos desmandos da ditadura militar. Juntamente com os amigos que compartilhavam do mesmo ideal, foi preso pela primeira vez pelo DOPS (Departamento da Ordem Política e Social) em 17 de abril de 1964. Encontrou no alojamento da prisão figuras ilustres conhecidas da política nacional, como: Blanchard Girão, Amadeu Arraes, José Jatahai, José Serra, Jonas Benevides e outros ilustres mais que não estão citados, mas que engrandeceria bastante as relações.

A perseguição política persistia e foi Preso novamente pela ditadura militar em 24 de outubro de 1969, colocado em um porão infestado de morcegos e com forte odor de carniça, debaixo de humilhações e sofrimento psicológico. Relatava gritos e gemidos de celas vizinhas, clamor de presos ao saírem e retornarem às celas. Chegou a pensar que não retornaria mais para a família.

Seus inimigos políticos não descansavam nas tentativas sem provas, para isolar o professor Zequinha Desidério do que mais gostava, sua família, amigos, sua terra e ensinar. Desse modo tornou-se inevitável mais uma prisão em 05 de outubro de 1970. Os abusos e excessos da ditadura militar, do poder local provocaram repetições das cenas já vividas pelo professor Zequinha Desidério, sua família e amigos. Explicações para interrogações sem fim, suspeitas de ser um comunista perigoso, guerrilheiro com orientações de Cuba e outras acusações infundadas.

As discriminações e o preconceito da população desinformada foram estendidos aos familiares mais próximos. Mas o professor Zequinha Desidério não deixou jamais de manter sua cabeça erguida, de ser um militante ativo em campanhas políticas em todos os tempos; continuou sua rotina de ser defensor da democracia, não se rendeu a corrupção e aos poderosos. Cidadão consciente de seus deveres e direitos, não se deixava calar com medo de perseguição e orientou sempre aos que os ouviam, e de modo especial seus filhos e netos.

Fragmentos dos fatos aqui narrados sobre as prisões e perseguições políticas estão melhores detalhadas na obra: Golpe de 1964: História, Geopolítica e Educação (UECE-2014, p 185 a 203) no capítulo intitulado “Professor “Zequinha’ e o regime militar na região Jaguaribana: Memórias da Tortura”. Texto escrito por seu primogênito: Carlos Holanda Oliveira.

Em 1986 migrou com toda família, fixando residência na terra da sua esposa, em Iracema/Ceará. Adotou a cidade como sua terra, e posteriormente recebeu o título de cidadão Iracemense. Foi autônomo até meados de 2000 enquanto seus filhos o ajudavam na oficina, trabalhavam e estudavam, desse modo conseguindo todos 07 filhos aprovações em concursos públicos.

Sua oficina/escritório só mudou de cidade, mas funcionava como sempre sendo a condutora dos encontros das novas amizades que construiu. Local em que a filosofia, a arte, a música, a política, a leitura tinha endereço certo. Fez programas educativos na rádio local, escrevia e registrava a rotina e fatos de destaque da cidade de Iracema e circunvizinhanças, ministrou palestras em escolas, participou ativamente da vida política, social e cultural conquistando o respeito e reconhecimento da sua contribuição social e cidadã. Ainda colaborou como diretor-financeiro na última gestão do ex-prefeito Francisco Filgueiras. Aposentou-se das atividades laborais, mas permaneceu intelectualmente e socialmente ativo.

Lutou contra o câncer desde o início de 2010. Forte e decidido cumpriu todo o ritual de um tratamento longo sem reclamações e desânimo. Entendendo que o tratamento não obteria o êxito esperado determinou que fossem tomadas decisões sobre o destino do seu corpo quando sua hora chegasse. Sóbrio, sereno, reafirmou sua vontade de ser cremado e pediu aos filhos que seu desejo fosse realizado. Que suas cinzas fossem espalhadas do alto do Monte Cristo de Pereiro, mas dias depois pediu que fossem depositadas no cemitério de Pereiro, local em que já estava seu irmão Cosme Desidério. Assim, na madrugada de 27 de janeiro de 2014, às vésperas de seu octogésimo terceiro aniversário, o professor Zequinha Desidério veio a óbito. Suas cinzas foram depositas no cemitério da sua cidade natal entre os seus que já se foram. Seu legado não é material, pois de material se preocupou exatamente com o básico para sobreviver e criar a família. Ficou o legado moral que seus descendentes, parentes.

Amigos e conterrâneos respeitam e eternizam seus exemplos. Pois como bem disse Guimarães Rosa “O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Foi assim que José Desidério de Oliveira (Professor Zequinha) deixou seus encantos virtuosos nos registros da vida.

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