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Cadeira nº 19 - Antonio Marcos Lima de Oliveira

  • ailacultatende
  • 22 de mar. de 2022
  • 10 min de leitura

Atualizado: 22 de mar. de 2022




BIOGRAFIA EM CONSTRUÇÃO.


PATRONO: PEDRO GONÇALVES DE OLIVEIRA (MESTRE PEDRO)

* 03/02/1898 | +14/05/1992


Porque escolhi o Mestre Pedro como meu Patrono?


Um Mestre sem diploma

O Senhor Pedro Gonçalves de Oliveira, o Mestre Pedro, como ficou conhecido por muitos, foi professor de matemática de pessoas ilustres em nosso município: Senhores Lula Miranda, Enéas Campelo, Raimundo Batista, Miguel de Veio no Sítio Foz, Raimundo Assis nos Bastões e tantos outros. Nenhuma das profissões exercidas ao longo do tempo lhe trouxe tanto entusiasmo como a de professor. Os filhos não sabem responder qual o seria o seu grau de escolaridade, porém relataram sobre os livros de aritmética que ele possuía, o que nos leva a crer que se tratava de um autodidata. Lecionou nas residências de várias pessoas em Iracema recebendo pequenas gratificações por algo que ele fazia por amor. Esse foi seu Pedro Gonçalves de Oliveira, um agricultor, contador de causos e professor. Homem que teve poucas oportunidades na vida e que viveu um período de dificuldades extremas e de exclusão social, no entanto nunca abandonou o sonho de lecionar e que foi para os seus filhos e o povo desta Terra um grande Educador. No ano de 2006 a sua neta Ana Paula Lima de Oliveira, recebeu da Câmara Municipal de Iracema, através do seu Presidente José Ubajara de Holanda Negreiros, o Título de Cidadão Iracema, oficializando algo que já tinha se consagrado no coração do Mestre Pedro. O Senhor Pedro Gonçalves, nosso Mestre Pedro e Paizinho morreu no dia 14 de maio de 1992 na cidade de Mossoró/RN, não resistindo a uma cirurgia para corrigir uma fratura no fêmur, vindo a ser enterrado no nosso município, Terra que ele amava por demais e que o entristecia por estar longe. Essa foram as razões pela qual elegi esse homem simples, bondoso e extremamente ligado a família e que por acaso foi meu avô paterno.



Biografia

O Senhor Pedro Gonçalves de Oliveira é natural da cidade de Iguatu, tendo chegado ao nosso município por volta de 1926 já casado com dona Sebastiana Maria de Oliveira, não trazendo nenhuma documentação e por razões nunca esclarecidas fora construída, segundo o seu filho mais velho, uma nova identidade, passando a ser natural da cidade de Potiretama/CE, mais especificamente “filho” do Sítio Atrás da Serra. Nesse novo documento, contestado pelos filhos até hoje, ele nasceu aos três de fevereiro do ano de mil oitocentos e noventa e oito (03/02/1898), filho de Inácio Filismino Gonçalves e dona Tereza Gonçalves de Oliveira. A respeito do casamento do Mestre Pedro com dona Sebastiana, sabe-se que casaram no religioso no ano de mil novecentos e vinte (1920) no Sítio Feijão, município de Senador Pompeu e no mesmo ano deixara esta localidade e vieram com toda a família da esposa para o Sítio Atrás da Serra - Potiretama/CE. Ela nascida aos onze dias do mês de setembro de mil novecentos e onze (11/09/1911), filha do Senhor Francisco Gabriel de Oliveira, conhecido como Chico Caé, e Dona Maria Filomena de Oliveira, que veio a falecer na seca de 1930. O matrimônio pelo direito civil foi lavrado pelo oficial e escrivão do Cartório de Registro Civil – Potiretama em 02/06/1948 – Comarca de Iracema, certificação nº 106, disposto no Livro nº 1, folhas 96 e V. O Senhor Pedro Gonçalves teve muitos filhos e a seguir descrevemos os seus nomes do mais velho ao mais novo: Francisco Gonçalves de Oliveira (Santinho Caé), Maria Gonçalves de Oliveira (Dona Lilia), Margarida Gonçalves de Oliveira, Tereza Gonçalves de Oliveira (Terezinha), Manoel Gonçalves de Oliveira (Preto Dalto), Geraldo Gonçalves de Oliveira, Suzete Gonçalves de Oliveira, Geni Gonçalves de Oliveira, Antonio Gonçalves de Oliveira (Toinho), José Gonçalves de Oliveira (Dedé), Francisca Gonçalves de Oliveira (Fransquinha) e José Reginaldo de Oliveira, filho adotivo que faleceu ainda muito jovem no ano de 1980 e que era na verdade filho da senhora Santinha (cunhada do Mestre Pedro) e do Senhor Elna Batista, fruto de um desaprovado romance juvenil. As relações do Senhor Pedro Gonçalves de Oliveira com o município de Iracema tiveram início quando o Senhor Chico Caé, conhecido pelos netos como Padre Chico, filho de Joaquim Rodrigues Bezerra (Pai Quinca) e Francisca Cunha Pinto, era morador do Sítio Feijão, segundo os filhos, município de Quixadá, vindo a aparecer naquelas redondezas por volta do ano de 1919 ou antes disso, época em que conheceu e se encantou pela senhora Maria Sebastiana de Oliveira. O Mestre Pedro, sendo assim conhecido pela profissão que abraçou: educador, era um excelente contador de contas e causos, assim como todo bom sertanejo e muitas destas “histórias” os filhos e netos relembram até hoje. Peço licença para narrar dois causos que nos pareceu intrigante, mas antes deixo para vocês uma das canções que ele sempre cantava para sua amada Sebastiana: O ABC do amor.


ABC do amor

G D

A letra A quer dizer amada minha

G

A letra B quer dizer bem ti querer C

A letra C quer dizer ser carinhosa

D D7 G

E a letra D Deus te leva bem formosa

D

A letra E quer dizer ela dizia

G

A letra Fe quer dizer felicidade

C

A letra Gue quer dizer guarda segredo

D D7 G

E a letra H hoje dela eu tenho medo

D

A letra I quer dizer idade louca

G

A Letra Ji quer dizer jurei te amar

C

A letra K quer dizer kaminharia

D D7 G

E a letra Le lembra de mim até um dia

D

A letra Me quer dizer manda-me um beijo

G

A letra Ne quer dizer na liberdade C

A letra O quer dizer ô linda bela

D D7 G

E a letra P é para mim os zoios dela

D

A letra Q quer dizer quero ti ver

G

A letra Re quer dizer ramin de amor C

A letra Si quer dizer saudade forte

D D7 G

E a letra T te amarei até a morte

D

A letra U quer dizer uma esperança G

A letra V quer dizer venho te amar C

A letra X quer dizer xeia de dor

D D7 G

E a letra Z zelamento de amor


Ouça no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=f-q2LuuwsOs



Causos e História de Vida do Mestre Pedro


I – Causo do Encontro do Mestre Pedro com o Diabo:

Certa vez ele reuniu os filhos e contou que gostava muito de chamar pelo diabo, se maldizendo pelos dramas da vida; e que encontrou um jovem de pele negra, todo rasgado e de aparência feia que o convidou a ficar rico e o acompanhar nas andanças pelo mundo. Segundo o Mestre Pedro, apesar de maltrapilho, os seus bolsos eram repletos de dinheiro e ele logo pensou que aquele era o “tinhoso”. O jovem negro também tinha dito que numa ocasião anterior tinha tentando fazer um acordo com um outro senhor, mas o galo cantara e tudo foi desfeito. Seu Pedro ou Mestre Pedro logo pensou que se tratava de um demônio buscando um pacto e este afirmou, como se pudesse ler seus pensamentos:

- Moço o diabo é um camarada bom e se você chamar ele logo aparece.

Depois desta feita o homem desapareceu como por encanto. O Mestre Pedro buscava ensinar os filhos com tais causos, prevenindo-os sobre os caminhos corretos que deviam trilhar. Certamente ele repassava os causos antigos, buscando despertar o imaginário de sua prole e de certa forma usava estratégias para educá-los. Desta data em diante prometeu nunca mais chamar o nome do demônio ou se maldizer. De fato, ele não gostava de reclamar e sempre via as coisas, mesmo em situações difíceis, por um lado bom.


II – O Causo da Carta para o Padre Cícero:

O Mestre Pedro era um homem polêmico e até mesmo intolerante na defesa de seus pontos de vista e com a religião chegava mesmo a extremos. O Senhor Santinho Caé, seu primogênito, nos relatou que Mestre Pedro considerava o Padre Cícero ou Padim Ciço, como muitos o chamam, um charlatão e decidiu escrevê-lo tentando destituí-lo da sua condição de homem santo, não colocando o destinatário na correspondência, pois era desejo que o Santo Padre de Juazeiro do Norte/CE utiliza-se de seus “poderes” místicos para descobrir o destino da carta. Caso contrário seria a prova cabal de que este não passava de mais um que abusava da boa-fé dos humildes cidadãos destes sofrido Sertão. Seu filho não conseguiu afirmar a respeito do conteúdo da carta, no entanto a mesma foi respondida pelo Padre Cícero Romão Batista e remetida ao Mestre Pedro com a seguinte frase: Pedro Gonçalves, Deus te abençoe. Não se sabe se a pessoa responsável pelos correios na época, compreendendo o equívoco do Mestre Pedro, terminou de endereçar corretamente a correspondência ou se o Padim Ciço era realmente Santo. Deixamos a imaginação e a fé das pessoas completar esse causo. O certo é que isso mexeu com as convicções religiosas do Mestre Pedro.



De onde veio tão ilustre Figura?

O passado do Mestre Pedro sempre intrigou os filhos e netos, pois por vezes era pego cantando suas canções de saudades e hinos da igreja e chorando. Quando perguntado a respeito das razões da melancolia dizia que apenas duas coisas tinha feito muito nessa vida: sofrer e sentir saudades. Algo muito misterioso envolvia o passado desse homem de pele negra que impedia de regressar a sua Terra Natal e para seus entes queridos. Parece que nosso Mestre nasceu realmente para sentir saudade, pois no ano de 1958 um dos seus filhos mais queridos, Manuel Gonçalves de Oliveira, conhecido como Preto Dalto, decidiu “ganhar o mundo”, como era de costume falar.

Embrenhou-se por este imenso país e se perdeu. As últimas notícias que seu Pedro tivera do seu paradeiro ocorreram por volta de 1965, quando amigos afirmaram se encontrar trabalhando na Fazenda Cachoeira de Propriedade do senhor José Mário, Estado do Paraná. Muita sabedoria o dito popular que afirma: aqui se faz, aqui se paga, pois, a saudade proporcionada pelo filho Pedro Gonçalves de Oliveira aos seus pais, fora retribuída na mesma moeda pelo Preto Dalto. Em uma certa ocasião, em conversas com seu filho mais velho, Senhor Santinho Caé, afirmou que nunca mais pegaria numa arma, pois acidentes acontecem e ela disparava sem perceber. O Senhor Santinho Caé não sabe afirmar se essa era uma pista do que tivera acontecido ou somente lições de um velho pai. Seu Pedro, Mestre Pedro ou Paizinho, como chamava muitos dos seus netos, sempre prometeu ao senhor Santino Caé falar do seu passado, relatar suas angústias, seus temores, mas nunca o fez, talvez pelo fato de ter falecido longe do mesmo, na cidade de Mossoró, após não resistir a uma cirurgia do fêmur. O jeito solidário e caridoso do Mestre Pedro para com os amigos, familiares e estranhos e sua forma amável de tratar os filhos e netos, especialmente os filhos de dona Fransquinha que ajudará a criar (Valéria, Airão, Nazeu e Nícolas) fazia todos crer que foi uma pessoa de boa índole e que primava pelo respeito e consideração. Ele sempre foi muito rigoroso consigo mesmo, tendo aprendido a perdoar os outros, mas parece não se perdoar. Os filhos lembram que no ano de 1970 ele forneceu leite ao senhor João Mossoró pelo período de aproximadamente seis meses, sem o conhecimento da família e dos amigos, em virtude de doença deste amigo e difícil situação financeira de seu conterrâneo. Ainda contam que certa vez chegou em casa sem camisa por tê-la dada a um jovem que a pediu. Falou que não conseguiu recusar o apelo do jovem em pior situação que a sua. Sempre trabalhou como agricultor, mas nunca produziu muita coisa, foi fiscal na construção da CE-138 que interliga os municípios cearenses de Iracema e Alto Santo, na época conhecida como rodagem e tinha a função de acompanhar os peões de obra. Por vezes chegava em sua humilde residência contando das contribuições e sugestões que dava aos engenheiros e responsáveis pela obra, a respeito de resolução de problemas e obstáculos que se colocavam em meio a conclusão da obra. Foi ainda zelador do açude do Ema, recebendo diretamente do governo federal através do Dnocs, função conhecida como inspetoria, saindo deste emprego para trabalhar como agricultor no Sítio Cacimbas. Que passou a assumir este posto foi o senhor Raimundo Caé, esposo da senhora Deolina Pimenta (primeira professora a lecionar na cidade de Iracema) e também seu cunhado. Os filhos criticaram muito o Mestre Pedro por abandonar este emprego e acreditam que os destinos da família poderiam ser diferentes se ele tivesse continuado no posto.


Um Mestre também na poesia:

Mestre Pedro foi o grande amor da vida de Dona Sebastiana e ela o chamava de Pedrinho. Seguiu junto a ele enfrentando todas as adversidades da vida e o preconceito de muitos familiares com a cor negra do Senhor Pedro. Certa vez Dona Sebastiana vendo que seus irmãos todos melhoraram de vida e ela não, fez um desabafo ao seu amado esposo:

“Pedrinho eu já estou tão cansada da gente viver na pobreza e nunca a gente ter uma situação melhor, todo mundo melhora de situação e só a gente que sempre está pior. Eu já estou tão aborrecida desta vida.”

Mestre Pedro que foi, além de um excelente professor de matemática, também um amante das palavras e afeito a poesia, triste com o que ouvira, olhou fixamente por alguns instantes para dona Sebastiana e disse:

“Eu sei Sebastiana, eu bem sei que fui um louco em te amar, mas se o ouro me

nega a porta, a glória tem me estendido a mão.”

Dona Sebastiana não compreendeu bem aquela frase, mas a achou bonita, tendo relatado aos filhos que sentiu vergonha, pois nunca recebeu dele riquezas, é verdade, mas sempre teve amor e percebeu que no fundo era feliz ao lado do seu Pedrinho.


Não Gostava de Política Partidária e sim de consideração:

Não gosta muito da política partidária, no entanto era correligionário do Major

Gervásio Holanda e do Senhor Luís Queiroz. Para entender a relação do Mestre Pedro com o Major Gervásio Holanda é necessário contarmos a seguinte situação vivida pelo Mestre e sua família: O Senhor Santinho Caé lembra da época em que o pistoleiro conhecido como Chico Carneiro andava pelas Terras de Iracema e aqui cometeu quatro homicídios, dois inclusive ficou marcado no imaginário do povo pelo modus operandi cometido contra dois irmãos no Sítio Barro Vermelho. Após as mortes as orelhas foram arrancadas e expostas num arame farpado. O citado pistoleiro esteve na casa do Senhor Pedro Gonçalves por volta de 1939, no Sítio Cacimbas, pedindo um prato de comida e água e este por ter o espírito solidário o acolheu em sua residência, sendo posteriormente acusado de apoiar um criminoso da justiça. Sua casa foi cercada por policiais da PM sob o comando do Sargento Alexandre que após a abordagem o interrogou. O Sargento em questão, no entanto, já tinha recomendações do Major Gervásio Holanda para tratar com respeito o Senhor Pedro Gonçalves, pois era uma pessoa de bem e um cidadão que estimava. O Mestre Pedro alegou que desconhecia a identidade do pistoleiro e considerava apenas um viajante, retirante ou mesmo um pagador de promessas, coisa muito comum naquela época. O Sargento se deu por satisfeito e deixou a casa do Senhor Pedro. Depois foi noticiada a prisão do referido pistoleiro na cidade de Patu/RN e trazido para Iracema para prestar depoimentos e realizar os procedimentos legais. O Mestre Pedro sempre votou no Major Gervásio

Holanda, talvez por pela consideração dispensada a ele no caso do pistoleiro Chico Carneiro. Também tinha simpatia e admiração pelo Senhor Luiz Queiroz, em virtude do respeito que sempre demonstrou pelo nosso Mestre, sempre atendendo às suas solicitações de carros para transportar sua mudança para cidade de Mossoró ou de lá para Iracema. Na cidade de Mossoró reside boa parte de seus filhos e netos. Nunca obrigou ou pediu a esposa, filhos e netos para acompanhar em sua orientação política e nem votar com seus candidatos, o que demonstrava outra de suas qualidades: o espírito democrático.


Qual a Religião do Mestre Pedro?

O Mestre Pedro era um homem muito devoto a Deus, no entanto não apreciava a adoração aos Santos; dizia-se católico, todavia era comum os filhos e netos o ouvirem cantando hinos que mais pareciam louvores de cultos evangélicos e também não gostava de frequentar as igrejas católicas. Esses hinos, louvores ou mesmo canções de saudades foram cantados por ele poucos momentos antes de sua morte no leito do hospital em Mossoró, numa despedida dessa vida que lhe deu, além da esposa amada e dos filhos, netos e amigos, muito sofrer e sentir saudades.



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